
O Caso de Júlia e auto-sabotagem
Júlia veio à mentoria individual muito desgostosa com a sua situação profissional. Faz tudo o que lhe é pedido, trabalha horas extra e ajuda sempre tanto colegas como chefia nos trabalhos de última hora, chamados “urgentes”. Preparou-se com grande entusiasmo para a sua reunião de avaliação anual, confiante do excelente trabalho produzido. Contrariamente ao esperado, o seu chefe confronta-a com diversas críticas e possibilidades de melhoria, que Júlia considerou injustas, culminando o seu feedback com uma nota mediana, muito abaixo da sua expectativa.
Mentoria Individual sobre Auto-sabotagem
Para júlia, isto significava a impossibilidade de melhorar o seu pacote salarial e a impossibilidade de mudar de casa, tão desejada por si e pelos seus filhos. Com significativo sentimento de revolta, Júlia procura ajuda com vista a perceber o que possa ter corrido mal neste ano profissional, que considera perdido.
Peço a Júlia pare descrever um dia particularmente exigente de trabalho, bem como a véspera da reunião de feedback.
Como diria Nicholas Boothman, não existe fracasso, apenas feedback! A vida informa-nos sobre o que necessita ser alterado. É importante 1) ter presente o que pretendemos; 2) observar os resultados obtidos e 3) alterar o nosso comportamento até atingirmos o nosso objetivo.
Auto-sabotagem – os dez erros mais cometidos por mulheres em contexto de trabalho
Em conjunto identificamos alguns dos seus erros fatais, a que acrescentamos outros erros muito comuns:
- Procurar agradar e precisar de que gostem de si: Esperar e depender da opinião dos outros cria uma imagem de insegurança e limita a tua iniciativa e proatividade;
- Estar sempre disponível e trabalhar horas extra: Priorizar o trabalho em relação à tua vida pessoal é um fator de desequilíbrio na tua vida e não te valoriza enquanto profissional. Se precisar de trabalhar mais horas, isso significa que o trabalho não está bem distribuído ou delegado, ou que os recursos humanos estão mal calculados;
- Não ter claros os objetivos anuais: A falta de direção e de critérios claros de avaliação pode implicar a estagnação da tua carreira em prol da carreira de outros, que irão beneficiar dos teus esforços;
- Aguardar pelo fim do ano para obter um feedback: conhecer o real ponto de situação sobre o teu trabalho é fundamental para redirecionares os teus esforços e adequares as estratégias;
- Fazer o trabalho dos outros e proteger os incompetentes: não és santa nem mãe de colegas ou subordinados. Sempre que assumes um papel de boa colega ou boa chefe, estás a priorizar o trabalho dos outros em vez do teu e a perpetuar um comportamento irresponsável, além de criares injustiças;
- Partilhar demasiada informação de carácter pessoal: Com esta atitude aparentemente simpática e generosa, estás a abrir uma caixa de Pandora, pois os colegas sentem-se no direito de aconselhar, comentar e até criticar as tuas escolhas pessoais, podendo vir a interferir no teu bem-estar. “Trabalho é trabalho, conhaque, é conhaque!”;
- Ignorar o sistema de troca de favores: a vida profissional está cheia de naturais e pequenas ou grandes trocas de favores: “sim, eu ajudo-te nessa folha de Excel e em troca, ajudas-me nos slides da minha próxima apresentação”. Ajudar os outros sem pedir nada em troca é uma perda de oportunidade e está relacionado com os erros n.º 1 e 5;
- Desvalorizar o seu trabalho ou a sua posição: “Não faço nada de especial, eu apenas…. “; “o que eu faço é muito simples, apenas….”; ”o meu colega tem mais perfil para coordenar a equipa”; são todas frases de desvalorização. Vamos substitui-las por frases poderosas e entusiasmantes que reflitam as tuas qualidades e a importância do que fazes, por exemplo “o que eu faço é fundamental para a minha empresa, pois faz sobressair para o exterior o valor do nosso produto” ou “posso dizer hoje que me especializei na análise dos números da minha empresa e que, graças ao meu trabalho, a administração pode tomar melhores decisões”;
- Resistência à mudança: A incapacidade de se adaptar a novas situações e tecnologias pode prejudicar o teu crescimento profissional. Assumir que já sabemos tudo o que precisamos representa uma estagnação de pensamento e transmite uma imagem de rigidez e falta de dinâmica. Haverá sempre alguém mais jovem e dinâmico, pronto para os substituir. Aliar a experiência à inovação é o teu maior trunfo;
- Falta de networking: Ignorar oportunidades de construir uma rede de contatos pode limitar as possibilidades de colaboração e crescimento na carreira. Interagir com outros é fundamental para nos fazer refletir, descobrir novos caminhos, oportunidades e sinergias. Dê-se a oportunidade de conhecer novas pessoas e de descobrir as suas mais-valias e o que pode aprender com elas. E sempre que interessante, procure manter e reforçar esses laços.
O trabalho de mentoria e o desenvolvimento de novas competências
O trabalho com a Júlia foi muito rico. Em contexto de mentoria, trabalhámos as suas competências de assertividade a par com a sua autoestima. Através de uma tomada de consciência sobre o seu posicionamento e atitudes, pudemos remover os mecanismos de defesa inúteis que utilizava para obter a aprovação dos outros.
Júlia pôde observar resultados imediatamente. Passou a sentir um reconhecimento e valorização das suas competências profissionais, tanto por parte da cadeia de liderança da sua empresa como por parte dos restantes colegas.